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Por: Leandro Campos
05/09/2013
A dinâmica de aproximação e distanciamento entre torcidas organizadas de futebol no Brasil é estabelecida não somente pela natureza competitiva instaurada pelo futebol, mas também pela ocupação de um espaço político junto aos clubes, e frente a outras torcidas de diferentes estados, pois, ter torcidas aliadas em outros estados é sinal de respeito e reconhecimento (TOLEDO, 1996:99). Empiricamente, a relação de aliança e rivalidade entre torcidas organizadas de futebol obedece a certa configuração que está longe do âmbito da mera casualidade. Torcidas organizadas de futebol ramificamse e mantém laços de amizade mais permanentes, que se estendem por vários estados do Brasil, como o caso dos grupos de torcidas aliadas denominados: União Punho Cruzado, União Dedo pro Alto, União Punho Colado, entre outros. Em outros países da América do Sul, as relações de amizade entre torcidas de diferentes clubes de futebol também ocorre, não sendo exclusividade das torcidas brasileiras.
A aliança entre torcidas organizadas de futebol pode ser vista como uma relação que se configura no conhecimento, reconhecimento e amizade dos diferentes grupos de torcedores organizados que participam dessas relações. A aliança entre torcidas organizadas de futebol costuma ser bastante fixa e duradoura, contendo poucos casos registrados de rompimento entre torcidas. A aliança estabelecida entre torcidas organizadas de futebol, de acordo com Fernandes, proporciona em certa medida um: “( . . . ) relacionamento extra- territorial entre Torcidas Organizadas de times de vários estados do país, permitindo uma confraternização superadora de diferenças entre seus integrantes em certa medida reforçadora dessas mesmas diferenças pelo contraste, expondo similitudes no modo de torcer e propiciando uma via de espelhamento da própria identidade enquanto grupo” (FERNANDES, 2000: p.71) .
A aliança estabelecida entre algumas torcidas organizadas de futebol adquire uma especificidade e dimensão que evoca a esfera da reciprocidade, poder e prestígio, ou seja, uma dimensão política que se estabelece entre estes grupos torcedores. Essa relação entre as torcidas faz lembrar Marcel Mauss e sua análise sobre o dom, quando destaca a retribuição obrigatória dos presentes.
“A circulação de bens segue a dos homens , das mulheres e das crianças, dos banquetes, dos ritos, das cerimônias e das danças, e até mesmo a das pilhérias e injúrias. No fundo ela é uma só. Se se dão e se retribuem coisas, é porque se dão e se retribuem “respeitos” – dizemos ainda “gentilezas”. Mas é também porque o doador se dá ao dar, e, se ele se dá, é porque ele se “deve” – ele e seu bem – aos outros (1974: 129) .
A reciprocidade entre torcidas aliadas está pré-estabelecida pelo próprio calendário do campeonato, quando os torcedores ficam sabendo com antecedência a data dos jogos nas cidades onde possuem torcidas aliadas. As torcidas organizadas, sejam elas aliadas ou rivais, se assemelham quanto à morfologia interna, evidenciada por níveis socioeconômicos e culturais bastante congruentes dos torcedores que delas participam, ainda que existam diferenças no que diz respeito à organização interna da torcida, número de filiados e patrimônio.
Leandro Campos é Cientista Social pela UFF, escreveu em 2010 a monografia "O exército rubro-negro: um estudo de caso da Torcida Jovem do Flamengo e suas redes de alianças e rivalidades". Atualmente é pós-graduando Responsabilidade Social e Gestão Estratégica de Projetos Sociais.